Carta Aberta Autodefensores.

Carta Aberta Autodefensores.
27/08/2020

Ao longo da sua vida as pessoas estão suscetíveis a inúmeras situações adversas que podem atingi-las em maior ou menor grau de forma inesperada. A título de exemplo, pode-se apontar o momento atual que vivemos, onde o mundo luta contra a pandemia do COVID-19, trazendo circunstâncias desfavoráveis e causando danos econômicos, sociais e emocionais à população de um modo geral. Diante da pandemia, o isolamento social foi adotado como medida preventiva, além de outros cuidados necessários, e cada indivíduo foi e está sendo afetado de uma forma singular, e o modo como cada pessoa vem reagindo depende dos fatores biopsicossociais. Enquanto alguns podem ter reações leves, e enfrentar de maneira positiva este momento, outros podem ter reações mais severas sentindo-se sobrecarregados, ansiosos, confusos, estressados, com sentimentos de incerteza e de medo.
De uma coisa é certa, o momento atual não tem sido fácil para ninguém, principalmente para a Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla! Com a quebra da rotina diária, a fragilidade dos contatos com os colegas, amigos e familiares, a impossibilidade de participar das atividades e oficinas oferecidas na unidade, as Pessoas com Deficiência Intelectual e Múltipla enfrentaram dificuldades na adaptação a este novo cenário de isolamento social.
Diante disso, a APAE Salvador precisou se adaptar de forma rápida e atenta às necessidades dos usuários e das famílias, e começou a ofertar atendimentos envolvendo os colaboradores da unidade, ofertando acolhimento virtual individual e em pequenos grupos, oficinas virtuais através de vídeos, acolhimento e apoio psicológico e atendimentos psiquiátricos por telefone, entregas de cestas básicas, entre outras ações emergenciais de apoio as famílias e usuários.
Ouvir às suas necessidades dos usuários se tornou uma prática constante, e é imprescindível para entender melhor suas experiências e desafios neste período, para poder ajudá -los. Entre os relatos destacou- se que cinco usuários autodefensores da APAE de Salvador – Unidade São Joaquim. 
O usuário Autodefensor Robert Santana, tem 17 anos, mora no bairro de Altos de Coutos, estudante do ensino médio, relatou estar trabalhando nesse período cuidando de uma criança com deficiência, junto a uma família. Ele a ajuda na alimentação que é realizada por sonda, no banho e outras tarefas. Ainda relatou que também faz serviços de ajudante de pedreiro quando aparece. É estudante do ensino médio, tem participado das atividades virtuais e recebeu ajuda do Governo do Estado que disponibilizou o vale no valor de R$55,00 de alimentação que é destinado aos alunos da Rede Estadual de Ensino. “A APAE Salvador, qual eu faço parte da diretoria (suplente dos autodefensores), está ajudando os usuários e seus familiares nesse período de pandemia doando uma cesta para cada família da Instituição, a qual eu também recebi” destaca.
A usuária Autodefensora Thais Brandão, 24 anos, mora no bairro da Boca do Rio, relatou que não tem sido nada fácil: “Têm dias que estou muito triste por não estar na minha rotina normal, estou a cada dia que passa mais ansiosa e por isso tenho feito as atividades de casa e procurando me ocupar”. Relatou ainda que ficou doente com chikungunya, como também a sua genitora. Sinalizou que receberam apoio da APAE Salvador. A proliferação da chikungunya e dengue são outras preocupações durantes esse período, várias famílias precisaram de acolhimento e cuidados e estão sendo acompanhados pelo setor de mediação socioassistencial da APAE Salvador.
O usuário Autodefensor Ítalo Leonardo Gomes, 19 anos, mora no bairro Pirajá, estudante do ensino médio, relatou, com apoio de sua genitora Márcia Gomes, que sua rotina foi totalmente comprometida, passou a acordar às 5 horas da manhã, toma café e retorna para dormir, acordando as 11 horas, assisti TV, almoça, ouvi música e retorna para dormir às  15 horas. Ficou confinado no quarto e precisou de apoio da equipe de mediação socioassistencial, que ajudou com ligação ofertando apoio psicológico e acompanhamento. O estudante ainda relatou ter dificuldade de acesso as informações da escola através de um grupo do WhatsApp criado pela escola, tentando contato por várias vezes, mas sem sucesso, o que lhe deixou ainda mais triste, pois gosta bastante da escola e dos estudos. Ainda complementou agradecendo o recebimento das cestas básicas e o apoio que vem recebendo da unidade em todo esse período.
Diante desses relatos percebe-se que este período de isolamento tem quebrado a rotina dos usuários e dos familiares e que mais do que nunca precisam de apoio e acolhimento, percebe-se ainda que o contato virtual tem cumprido papel fundamental na disseminação de informações e suporte necessário aos que mais necessitam, mas isso é também um desafio, pois nem todos os usuários tem computador ou celular, ou acesso à internet. Pensando nisso, os autodefensores vem pedir, para aqueles que puderem ajudar, a doação de celulares usados, em bom estado para uso, para que sejam doadas as famílias dos atendidos que não têm, impossibilitando o acesso às informações, oficinas virtuais e apoio psicológico.
Finalizamos, agradecendo a prefeitura de Salvador, a SEMPRE, as empresas, aos artistas parceiros e todos colaboradores que vêm contribuindo com o trabalho desenvolvido pela APAE Salvador.
Juntos superaremos as dificuldades existentes, vai passar!
AUTODEFENSORES APAE SALVADOR

doe agora